Aquela cidadezinha não existe mais. Aquela cidade que se podia andar tranquilo, fechar as portas e janelas? Só quando ia dormir. Fechavam-se as janelas por causa dos intrusos. Os pernilongos e mosquitos, ou o vento do inverno. Nas calçadas, até a meia noite as famílias ficavam reunidas conversando, enquanto as crianças brincavam, ali mesmo, na rua. Essa cidade não existe mais. Os 14 mil habitantes de São João Batista, saltaram para 27 mil e os problemas de cidades grandes se multiplicaram.
Os muros estão mais altos. À noite a cidade fica deserta. Não por opção, mas por medo. Nos últimos anos a problemática só é discutida pela tangente. A impressão que fica é que o assunto é secundário. E as desculpas são variadas. O famoso jogo do “empura”, ninguém quer se responsabilizar. É claro que a insegurança não é ‘privilégio’ só de São João Batista. Mas também não digam que está tudo bem.
Tentem convencer as famílias que tiveram suas casas roubadas, que está tudo bem. Tentem convencer quem levou uma vida inteira para conquistar bens móveis e imóveis, e tem o carro ou casa invadida, que está tudo normal. Falem com quem foi vítima. Com a mãe que teve duas filhas seqüestradas, estupradas, torturadas e mortas em 2006, e vejam se está bem. Conversem com as testemunhas dos regulares assassinatos, roubos, furtos, agressões… Conversem.
Mas só falar não basta. E preciso tirar os carros do pátio da polícia. Quem já tentou falar com um Policial Militar sabe: portões fechados e carros estacionados. É só passar em frente ao batalhão para constatar. E não era para eles estarem nas ruas? Até a sensação de segurança foi roubada. Qual será o próximo crime até que tomem uma providência? Quantas casas, quantas vidas, quantas ocorrências serão registradas até que se faça algo?
Saiam dos gabinetes, abandonem as reuniões e audiências e façam algo. No dia 06 de fevereiro os prefeitos da região vão novamente se reunir para debater o assunto. Mas essas reuniões acontecem a mais de oito anos, e na prática não altera nada.
As velhas desculpas devem permanecer ainda por um longo período. Enquanto isso, a população que paga impostos, que trabalha, que gera riquezas assume mais esse custo. Precisa instalar fios elétricos e alarmes, subir os muros e torcer para não ser a próxima vítima. A hora do basta já passou. É hora de ação.
Texto: Jonas Hames
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