A mulher que dopou e asfixiou o marido, Valdemir Hoeckler, de 52 anos, em 14 de novembro de 2022, em Lacerdópolis, município do Meio-Oeste de Santa Catarina, e escondeu o corpo no freezer, foi condenada a 20 anos e 24 dias de prisão, em um dos julgamentos mais aguardados de SC. Ela chegou a confraternizar com amigas, registrar o desaparecimento do marido e ajudar nas buscas. A ré foi reconduzida ao presídio assim que a sentença foi lida e não poderá recorrer em liberdade.
O Tribunal do Júri ocorreu na Câmara de Vereadores de Capinzal, cidade-sede da comarca, e durou dois dias. Os trabalhos iniciaram às 9h de quinta-feira (28/8), com o sorteio dos jurados, foram interrompidos às 23h devido a mal-estar da ré e recomeçaram às 8h30 de sexta-feira (29/8). O julgamento só terminou às 20h35, com forte comoção entre familiares e público presente.
Os jurados acolheram integralmente as teses apresentadas pelos Promotores de Justiça Rafael Baltazar Gomes dos Santos, de Concórdia, e Diego Bertoldi, de Videira, reconhecendo os crimes de homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.
O julgamento foi marcado por tensão, debates acalorados e comoção. Familiares da vítima e da ré ocuparam o plenário com camisetas pedindo, respectivamente, condenação e absolvição. Cerca de 25 policiais garantiram a segurança, e a rua em frente à Câmara foi fechada durante a sessão.
Durante a apresentação da acusação, foram levados ao tribunal o freezer, cordas e o pano utilizados no crime, demonstrando a crueldade da ré. Segundo o promotor Diego Bertoldi, “o Ministério Público é a voz da vítima e estamos aqui para mostrar a verdade e impedir que o direito das mulheres seja usado para justificar um ato tão brutal”.
Foram apresentadas também provas de áudios enviados pela ré ao marido após o crime, tentando criar um álibi, além de evidências de movimentações financeiras suspeitas, como a retirada de dinheiro da conta da vítima para pagar advogados de defesa. A defesa alegou violência doméstica, mas apresentou apenas um boletim de ocorrência de 2019, retirado poucos dias depois.
A ré optou por não assistir à sustentação da acusação nem à leitura da sentença e possui antecedentes criminais.
Relembre o caso
Em 19 de novembro de 2022, o corpo de Valdemir Hoeckler foi encontrado congelado dentro do freezer da própria casa, em Lacerdópolis, no Meio-Oeste catarinense, com pés e mãos amarrados, chocando os pouco mais de 2.200 moradores do município. No mesmo dia, a esposa publicou um vídeo nas redes sociais confessando o crime, alegando violência doméstica. As evidências e relatos de pessoas próximas, no entanto, apontavam que o casal convivia harmoniosamente.
O Ministério Público denunciou a ré por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Ela foi presa preventivamente após confessar o crime, chegou a responder em liberdade e voltou à prisão em maio deste ano, após recurso do MPSC.
Durante o julgamento, dez testemunhas foram ouvidas, incluindo um amigo da vítima e um policial militar que encontrou o corpo escondido sob mantimentos. Valdemir vivia com a ré há 23 anos e havia formalizado a união recentemente, deixando mãe, filhos, irmãos e netos.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social do MPSC – Correspondente Regional em Lages