Um processo de reconhecimento de terras que poderão vir a ser destinadas a comunidades indígenas começa a provocar debates acalorados no município de São João Batista. Trata-se de uma área de cerca de 220 hectares pertencente à União, situada em Vargem Pequena, onde, segundo informações, a Funai esteve recentemente acompanhada de indígenas para fazer uma inspeção in loco. Futuramente, o local poderia abrigar cerca de 20 famílias indígenas, segundo estimativas dos interessados.
Moradores, lideranças locais e participantes de entidades como a Amavap (Associação da Vargem Pequena) manifestam forte preocupação, principalmente pela importância estratégica da área para o abastecimento hídrico da cidade. A zona é utilizada para captação de água, sendo essencial para o fornecimento municipal, o que intensifica os questionamentos sobre um possível uso ou restrições.

Situação Atual Do Processo
- A visita da Funai seria para sondagens iniciais: estudos antropológicos, ambientais e de infraestrutura são necessários antes de qualquer decisão definitiva.
- Não há, até o momento, definição formal de demarcação ou homologação — estes são passos que dependem de normas constitucionais, estudos técnicos e diálogo com diversos setores da sociedade.
Similaridades Com Outros Casos E Contextos Locais
Para entender o cenário, alguns antecedentes na região ajudam a contextualizar:
- Aldeia Guarani Tekoá Vy’a localizada na Estrada Geral Negra Chica, no município de Major Gercino. Abriga cerca de 24 famílias.
- Aldeia Tekoá Tava’í, em Canelinha: composta por cerca de 15 a 17 famílias, instalada há anos no bairro Rio da Dona.
Ambas têm praticamente a mesma metragem, cerca de 200 hectares.
Pontos De Tensão E Desafios
- Abastecimento de Água: a área em questão é vital para a captação de água que abastece São João Batista, de modo que qualquer mudança no uso ou na propriedade pode impactar o acesso à água ou sua qualidade.
- Infraestrutura E Planejamento: além da demarcação, há necessidade de avaliar como seria o suporte para as famílias indígenas — acesso à saúde, educação, energia, transporte — e se isso será viável sem prejudicar os serviços existentes.
- Participação Da Comunidade: moradores e autoridades municipais cobram transparência sobre os estudos que estão sendo feitos, seus prazos e impactos.
- Aspecto Legal: a Constituição Federal assegura direitos indígenas sobre terras tradicionalmente ocupadas, mas o processo de reconhecimento, demarcação, homologação e desintrusão tem várias etapas legais, que não raramente se arrastam por anos.
Embora o caso de Vargem Pequena ainda esteja em fase de sondagem, já evidencia os desafios típicos que rondam demarcações de terra indígena no Brasil: conflitos de uso, necessidade de equilíbrio entre direitos indígenas e interesses da população não-indígena, exigência de garantias ambientais e de infraestrutura, além de transparência nos processos.
Para a população local, especialmente aqueles que dependem da água captada na região, e para as comunidades indígenas que possam vir a ocupar o território, este será um tema decisivo. O futuro dessa terra em Vargem Pequena dependerá não apenas de laudos ou decisões administrativas, mas igualmente de diálogo, participação comunitária e do cumprimento estrito das normas constitucionais.







